quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

O sentimento não é algo que se deva compreender... Basta sentí-lo...

Escrevo estas linhas numa altura do ano em que, teoricamente, toda a gente deveria estar em paz e alegria, longe do stress do quotidiano e das dores de cabeça que nos apoquentam durante o resto do ano... Sim... Porque o Natal deveria simbolizar isso mesmo...

Mas também me lembro de quem tem passado os últimos dias fechado numa quarto, ou d quem não tenha propriamente sido bafejado pela sorte... E lembro-me que nem sempre podemos estar na melhor das disposições para festejear nesta altura do ano... Uma intervenção cirúrgica, um azar que nos bate à porta, uma despesa inesperada... Podem acontecer-nos a qualquer momento...

E nessas alturas, nós, os amigos, sentimos o dever de devolver a esses nossos Amigos, a confiança perdida... Porque é nosso dever moral, enquanto Amigos que somos, de partilhar alguma dessa dor, porque como nossos Amigos que são, a dor deles também em parte é nossa...

E porque esta é a Época das prendinhas e das lembranças, aproveitamos para lhes distribuir a maior de todas as prendas... Aquela q pode ser oferecida em qualquer altura do ano, sem nada pedir em troca, senão outra igual... A nossa presença, sinal da nossa confiança, do nosso apoio e da nossa solidariedade; a maior prova de Amizade q podemos demonstrar... Provando assim que não é só nos momentos de alegria que aparecemos para partilhar... Também nos momentos de aperto e aflição sabemos dar um pouco de nós por quem entendemos que o merece...

E quando nos recordamos dos gestos de carinho que já antes nos tinham sido presenteados, percebemos que o Natal não é só nesta altura do ano... É sim, todos os dias, a toda a hora e em todo o lado... Desde que saibamos q existimos uns para os outros, e que sabemos respeitar essa vontade...

Para as minhas Amizades que se viram forçadas a passar um Natal diferente, por força das mais variadas contingências, o meu abraço de Solidariedade, e a certeza de que podem contar com a minha presença, sempre q seja precisa, e com o meu apoio incondicional... BEM O MERECEM ;)

Umas Festas Felizes (na medida das possibilidades) e um Abraço do tamanho do Mundo...

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Dedicatória aos Recem-Casados...

Algures, quase sempre em ambiente de festa, talvez junto de um altar, ela e ele pronunciavam as palavras irreparaveis.Tinham pensado nelas e no que significavam.Tinham deixado que o tempo corresse um bom bocado depois da passagem daquele sopro magico que os atraira um para o outro. Tinham-se conhecido melhor. Tinham observado bem as reaccoes um do outro.
Tinham conversado muito. Tinham construido - a partir dos planos de ambos - um unico projecto.Sabiam que o sopro magico tinha apenas o papel de iniciar uma coisa nova; e que partiria depois de algum tempo.
Isso nao os assustava.Iam em frente, com esperanca, com alegria, contentes por a vida se complicar. Conversavam, discordavam, rectificavam, pediam perdao.Sucedia, normalmente, cedo ou tarde, o desencanto, a perda de sentido, a vontade de deixar tudo e procurar de novo, noutro lugar, um outro sopro magico.
Mas tinham empenhado a palavra. Tinham pronunciado as palavras que - dentro deles e a sua volta - nao tinham retorno.Ficavam. Iam ficando. as vezes com prolongada dor, as vezes com um heroismo de que nao se julgavam capazes.
O tempo, porem, trazia, devagar, a calma, a alegria serena, a luz que parecia ter desaparecido. Aprendiam que o amor tambem passa como que por uma conturbada fase de adolescencia, ate que vem a tornar-se maduro, se purifica, se fortalece e embeleza.
Depois ficavam tao contentes! Tudo tinha sido util, tudo tinha tido o seu papel. Tambem a dor; tambem os esforcos que pareciam inuteis; e as cedencias e os silencios e as humilhacoes.Viam com toda a clareza como por coisa perdida tinham ganhado mil; como por cada lagrima derramada tinham oceanos de sorrisos; como por cada generosa tentativa, aparentemente frustrada, haviam recolhido cestos e cestos de consolacao.Olhavam e viam a casa cheia de rebulico; trancas louras; corridas atras do gato; o indescritivel prazer de voltar a contar as velhas historias. "Avo, conta outra vez a da Cinderela"...; "Avo, e mesmo verdade que antes havia duas R.T.P.?"...Viam, como num sonho, o passado e o futuro unidos por um no que eram eles mesmos. Um no que nada tinha podido quebrar e permitira o futuro, novos seres, outros sonhos tao iguais aos que eles mesmos tinham sonhado.
Haviam suportado a tempestade e passado o Cabo; o Futuro estava ali a frente dos olhos; o caminho, aberto para tantos e tantos cujos rostos eles nem sequer imaginavam.Tinham tido um lugar no longo fio da vida; tinham sido alicerce e cimento; tinham as maos cheias de sol. Nunca morreriam....................
Pode parecer que estive aqui a descrever um quadro que me encantou num museu qualquer... mas nao. Sei muito bem que isto, so isto, e real e verdadeiro; que so isto e de hoje e de sempre. E que, no fundo, tambem eu, um dia, hei de ser como eles...

sábado, 9 de setembro de 2006

Citações de Grandes Nomes da Música...

Um músico é alguém que viveu e que pecou, que recorda sentimentos, fraquezas, cujo arrependimento e sensação de nostalgia e remorso transparecem na música que executa e, por isso, consegue arrebatar a assistência, cujos pontos fracos são também os seus.
Yehudi Menuhin (n. Nova Iorque 1916)
A música expulsa o ódio dos que vivem sem amor. Dá paz aos que não têm descanso e consola os que choram. Os que se perderam ecnontram novos caminhos, e os que tudo rejeitam reencontram confiança e esperança.
Pablo Casals (n. Vendrell 1876; m. Rio Piedras, Porto Rico 1973)
"Não consigo escrever poesia: não sou poeta. Não consigo dispor as palavras com tal arte que elas reflictam as sombras e a luz: não sou pintor... Mas consigo fazer tudo isso com a música..."

"Para mim, o órgão é o rei dos instrumentos".
Wolfgang Amadeus Mozart (n. Salzburg 1756; m. Viena 1791)

Melodia e harmonia devem ser apenas meios nas mãos do artista para criar música - e, se chegasse finalmente o dia em que se deixasse de opor a harmonia à melodia, a escola alemã à escola italiana, o passado ao presente da música, então seria possível dizer-se que tinha começado o reinado verdadeiro da arte.
Giuseppe Verdi (Le Roncole 1813; m. Milão 1901)

A minha ideia é que há música no ar, há música à nossa volta, o mundo está cheio de música e cada um tira para si simplesmente aquela de que precisa.
Edward Elgar (n. 1857; m. 1934)

Tudo está escrito numa partitura, excepto o essencial.
Gustav Mahler (n. Kalist 1860; m. Viena 1911)

Houve e há, apesar das desordens que a civilização traz, pequenos povos encantadores que aprendem música tão naturalmente como se aprende a respirar. O seu conservatório é o ritmo eterno do mar, o vento nas folhas e mil pequenos ruídos que escutaram com atenção, sem jamais terem lido despóticos tratados.
Claude Débussy (n. Saint Germain-en-Laye 1862; m. Paris 1918)

A música nasceu livre, o seu destino é libertar-se.
Ferruccio Benvenuto Busoni (n. Empoli 1866; m. Berlim 1924)

O mundo é uma sumptuosa sinfonia
de mil vozes diversas.
As verdades terrestres,
consonantes com as verdades dos céus
soam em acordes cerrados e vibrantes
sobre as cordas dos milagres destruídos.
Aleksandr Nikolaïevitch Scriabine (n. Moscovo 1872; m. Moscovo 1915)

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Poesia e Música I

Se perguntares à música
que tem para dizer,
imagens ou prodígios
a emoção mais real,
viverás bem no fundo
com o ser todo inteiro
o consolo, as respostas.
Viverás muitas vidas
ricas como tesouros.
E então, dentro de ti
Com alimento e cor
dirás um obrigado
mesmo que seja à dor.

(Adelina Caravana Rigaud)

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Longas horas têm 17 anos...

Era uma quarta-feira. Vinha eu de regresso, no final de mais uma actuação, a meditar sobre a minha condição humana e social, a tentar entender o que me levaria a, em dia de entrevista oral, vestir a minha farda e deslocar-me para mais uma festa... Pretenderia eu aproveitar a ocasião para descontrair, afastar para longe de mim as minhas ansiedades? Ou apenas entenderia eu que, sendo a actuação programada para um dia de semana, seria dificil encontrar alguém que conseguisse suprir a minha ausência...

Se a primeira hipótese parece ser a mais viável, não deixa de ser um pouco estranha... Andar quilómetros a fio, para um lado e para outro, sempre a olhar para o relógio, não me parece ser muito anti-stress... Mas afastar as ansiedades, os males e outros negativismos da minha vida, isso sim,resulta.

A segunda hipótese é entendível... Mas não deixa de ser também ela estranha... Para colmatar uma falha que outrem não quis (ou não pôde) colmatar - para não prejudicar a vida pessoal - estaria eu a criar mais um alvoroço na minha vida pessoal, ao actuar em dia de entrevista... Facto no mínimo estranho, não?

Parece-me então que uma terceira justificação se impõe... E que resulta da junção das duas anteriores... E que reflete a minha orientação de vida dos últimos 17 anos de "carreira" musical...
Assumir a responsabilidade de enfrentar os dois desafios, não descurando nenhum deles, mas compatibilizando as duas actividades... Actuei... E fui à entrevista...

Se as duas actividades tiveram sucesso, só o tempo o poderá dizer... Uma delas não foi cumprida na sua totalidade, certo é... Mas não deixei de dar o meu contributo, dentro das minhas possibilidades...

Durante mais de 15 anos, tive possibilidade de dedicar a quase totalidade do meu tempo a todas as actividades que me propus concretizar... Infelizmente, com o passar do tempo, fui perdendo grande parte da minha disponibilidade...

A Vida não perdoa... E eu não deixo de obedecer a essa dura Lei. E aquelas horas que, há uns anos atrás, nem via passar, começam agora a tornar-se cada vez mais longas e duras de suprir... As dificuldades da Vida começam a ser demasiadas, para poderem ser abafadas em tão poucas (mas longas) horas. E, enquanto o tempo passa, ocupo-o a pensar na Vida, nos estudos, no trabalho, etc...etc...etc... Enfim... Na Vida... É natural que tal aconteça.

segunda-feira, 27 de março de 2006

Mais um ano... E tudo sempre na mesma...

Mais um ano se passou...

Lembro-me como se fosse ontem. Estreei-me numa Sexta-Feira Santa, pelas ruas da terra que me viu nascer. A farda nova pesava-me nos ombros, tal como a responsabilidade que me fora naquele dia incutida. Estava um sol abrasador, e não havia modo de sair a procissão...

Longos anos se passaram... E uma longa história musical me acompanhou com eles... Mas a tradição, essa, é que não se perdeu... Todos os anos, por esta altura se realizam as Procissões do Senhor dos Passos...

Carapinheira abre a programação... Segue-se-lhe Tentúgal, Montemor-o-Velho e Penacova... E todos os anos se repete esse ritual...

É também nessa altura que se estreiam os recém-chegados Músicos, em Penacova (e em muitos outros lugares, por esse País fora)... E, tal como eu senti o peso da responsabilidade, no dia que inaugurou a minha condição de Músico, também eles a deverão sentir...

É nessas alturas que a experiência de quem já anda nessas lides há anos deve vir ao de cima, incutindo nos novos pupilos a calma necessária para uma boa execução... E nada melhor que confiar neles, para impingir essa calma, e acalmar essa ansiedade natural...

Por isso, e renovando os meus votos de Boas Vindas ao Mundo Filarmónico, reitero a confiança que todos os Mestres depositam nos seus recém-chegados Músicos, endereçando a Mestres, Directores, Professores, Encarregados de Educação e Músicos os meus votos de Parabéns por essas novas aquisições, renovando também o desejo de que novidades se repitam por muitos mais anos, permitindo assim que as Filarmónicas possam sobreviver às dificuldades que têm vindo a atravessar...

Sejam os pupilos bem-vindos a esta nossa Comunidade, e que o futuro lhes permita um crescimento forte, saudável, culto... Longe de todas as vicissitudes e vícios que hoje em dia apoquentam a nossa Sociedade...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Ser músico... Uma vida paralela para além da vida pessoal...

Um músico é alguém que viveu e que pecou, que recorda sentimentos, fraquezas, cujo arrependimento e sensação de nostalgia e remorso transparecem na música que executa e, por isso, consegue arrebatar a assistência, cujos pontos fracos são também os seus.

Yehudi Menuhin (n. Nova Iorque 1916)

Ser músico... Afinal do que se trata?


Quando integrei pela primeira vez as fileiras de uma Banda Filarmónica, pensava na altura que era uma oportunidade de dar a conhecer os meus dotes musicais, os conhecimentos adquiridos nos 7 anos anteriores e que tão poucas vezes tivera oportunidade de apresentar...

Enganado estava... Depressa percebi que, para vingar, teria de agir, pensar, executar... segundo os padrões de todo um grupo. Um elemento só não faz a Banda; mas a Banda, sem esse elemento, perde parte daquilo que a caracteriza: a unidade, e o espírito de entreajuda, que, entre muitas outras características permitem (Fil)harmonia e Musicalidade.

Ainda demorou algum tempo até descobrir que teria de agir assim... Mas o Tempo (esse elemento tão precioso da Música) logo tratou de me passar a lição... E, a partir daí, comecei a descobrir todos os tesouros dessa arte, e o porquê de, ao fim de mais de um século, a Banda Filarmónica ainda sobreviver...

Foi na Banda Filarmónica que conheci os meus amigos, que aprendi a mantê-los e a lidar com eles... Isso porque começámos a partilhar uma Filosofia de Vida comum, juntos, e em confraternização... Formámos um Mundo Paralelo, o qual apenas nós, Músicos, dirigentes, Maestros e Amigos da Filarmónica integrávamos... Nele partilhámos as nossas alegrias, as nossas tristezas... Nele se formaram casais... Nele divulgámos, através da Música que executámos e ouvimos, todos esses sentimentos aos quais, de outra forma, não poderíamos dar expressão... Sempre... Em qualquer altura e em qualquer lugar... Lonje ou perto da vista e do Coração...

Foram esses momentos que nos formaram, musical e humanamente, e que fizeram de nós Homens e Mulheres que hoje somos. Sim... Porque a Filarmónica tem esse condão de formar Pessoas, lonje dos vícios que hoje em dia apoquentam esta nossa sociedade...

É esse um dos segredos com que a Banda Filarmónica nos presenteia... A memória e a lembrança de bons e agradáveis momentos, passados em família... O respeito mútuo pela farda envergada... O apoio e o carinho de quem se encontra junto a nós, nos bons e nos maus momentos, nos momentos de euforia e nos de stress ou arrependimento... Essa amena confraternização que nos aproxima tanto. Porque os amigos servem para todas as ocasiões: para nos acompanhar nos momentos de euforia, mas também para nos acompanhar nos momentos de tristeza e dor...

E, se algum dia nos tivermos de separar, este sentimento de irmandade manter-nos-á unidos, na alma e no coração... Tudo porque um dia decidimos amar e respeitar a mesma arte... A Música.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Uma Escola de Vida... Porque recordar é viver...


Passei este último fim de semana a pensar na minha vida... O que me deu... O que me tirou... O q me há de dar... E, essencialmente, o que me há de devolver.

Isto porque as contingências da vida, por vezes, nos levam a pensar que a vida deve ser vivida dia a dia... E que devemos gozar cada momento lembrando que jamais se repetirá, que é único... Porque o tempo não para, e não é possivel fazê-lo regredir...

Quantas vezes nos arrependemos de um gesto, uma atitude, um pensamento mais infelizes?... Quantas vezes desejaríamos voltar atrás para corrigir esses erros? E, no entanto, não temos outra alternativa senão acatar as consequências desse actos... E esperamos que o tempo nos dê a possibilidade de os corrigir... Ou de demonstrar o nosso arrependimento...

Passei este fim de semana a ponderar todos esses factores preponderantes da minha vida, lembrando-me de alguém que estaria nessa altura a fazer o mesmo, embora por motivos muito diferentes...

Mas o reencontro com todas aquelas pessoas com quem convivemos durante 15 anos, nesse fim de semana, a recordar as aventuras e desventuras vividas no seio daquela que foi a minha 2ª família, fez-me reflectir...

E assim foi... Após duas longas horas de conversação filosófica sobre a Universalidade (ou não) da Lógica, à mesa de um café, e quando regressávamos ao serviço, a caminho da capela, aproveitei a oportnidade para me relembrar que esses 15 anos não se passaram em vão, e me trouxeram muitos bons momentos. Também me trouxeram maus momentos (os quais me levaram a abandonar a carreira de Músico em Penacova, carreira que eu abraçara há tanto tempo)... Relembrei que vivi cada um desses momentos como se fossem os últimos momentos passados no seio dessa tão nobre família...

Após este período de ausência, ainda consigo reencontrar os meus amigos... Continuo a partilhar com eles todos estes momentos com a mesma boa vontade, e a mesma boa disposição, mas relembrando que poderá esta ser a última das minhas odisseias... Mas continuo a tratar todos como se fossem meus irmãos... Com a certeza de que a minha ausência se deverá a contingências que a vida nos obriga a assimilar no nosso quotidiano... Sei que serei sempre recebido de braços abertos, que todos me têm reconhecido as características que me tornaram na pessoa que hoje sou, e que me permitiu angariar tantos e bons amigos... Sei que quando algum deles se "chateia" comigo, que o não faz por maldade, mas para me mostrar que é meu amigo, e que preciso, eu também, compreender a sua posição... Sei que se viro as costas a algum deles, é porque também eu lhe quero mostrar que a minha posição também tem valor, e que também tenho o direito (ou o dever) de me fazer escutar...

No fundo, todos somos irmãos, nesta tão grande e nobre Família Filarmónica... Tratamo-nos como tal, e respeitamos a posição uns dos outros. Quer se tratem de pessoas "da casa" ou de convidados, Músicos, Maestro ou Directores, todos temos a nossa importância... Nada seríamos sem a presença uns dos outros... Porque todos precisamos uns dos outros, em cada instante das nossas vidas...

A Filarmónica, não é apenas um espaço de formação musical e artística... É também uma "Escola da Vida", onde cada um aprende a viver em sociedade, e a respeitar os seus próximos... E onde crianças, jovens e adultos se podem divertir, ganhando a experiência que, um dia, lhes caberá ensinar às gerações vindouras...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Quando a Música suplanta os sentimentos (ou "Era uma vez no palco")...

Entrei há dias em palco, com o intuito de praticar a minha insubstituível actividade, através da actuação num concerto com uma Banda Filarmónica à qual me encontro agregado há cerca de 8 anos...

A véspera tinha sido muito complicada... O ensaio tinha corrido de muito pouca feição, mas logo na altura o Jovem Mestre nos consolou, relembrando que "mau ensaio prenuncia bom Concerto".

E assim aconteceu... Um espectáculo brilhante, como há muito não se via naquela terra... Um repertório assinalável, que custou a ensaiar, mas rendeu os seus frutos.

Acabado, o dito concerto, era hora de voltar a cair na dura realidade da vida...

Alguns problemas, ocorridos em dias anteriores, andavam-me a apoquentar o Juízo, e não me largavam... Triste de mim!!! Voltava pra casa, pensando novamente como suplantar aquela difícil fase da minha vida, qual crise existencial que me moía o cérebro, e me fazia lamentar a sua origem...

Eis que senão me apercebi que algo tinha ocorrido durante aquela hora de trabalho...

Enquanto decorria o concerto, durante aquela hora, todas as minhas lembranças como que se apagaram da memória... A concentração era tanta (tamanha era a responsabilidade que me era imputada naqueles instantes) que apenas dava para contemplar as pautas que à minha frente se encontravam, e a Regência... Nesse momento, apenas tinha de cumprir a missão da qual tinha sido incumbido... Mas ao contemplar aquelas folhas de papel, revestidas de pautas, claves, notas e figuras, notei que a execução do trecho desenvolvia-se por mero instinto... Os meus olhos viam, os meus dedos mexiam, e os meus lábios tocavam... Sem que nada nem ninguém lhes ditasse o que fazer.

Não era a minha cabeça que pensava... Era aquela suave melodia que, transportada pelo ar, invadindo os nossos ouvidos, nos levava a imaginar um qualquer cenário. Tudo o que a nossa imaginação pudesse alcançar... E enquanto nos enquadrávamos nesse cenário, todo o Mundo que nos rodeava desaparecia, num piscar de olhos, por entre duas colcheias, antes, durante e depois de um qualquer compasso... E todos os problemas desapareciam com ele...

É essa magia que a Música provoca em nós que me fascina, que me faz lembrar que, por entre aquelas nuvens negras que constantemente têm pairado sobre a minha cabeça, ainda consigo enxergar um raio de luz, que me ilumina e me transporta para um Paraíso, longe de tudo e de todos, onde tudo nos encanta, e onde os sons nos mostram o caminho da nossa redenção...

No fundo, trata-se de música. Actuar. Usar o palco para ensinar e aprender. Trata-se de todas as coisas que não se podem aprender num manual. Trata-se de compreender o Mundo através da experiência e/ou dos sentimentos, e de nos embrenharmos num outro Mundo, paralelo, onde tudo nos fascina, e nos leva ao Paraíso das nossas sensações...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

No princípio, agora e para sempre... De lira ao peito!


"A música tem origem no coração e nos sentimentos do homem. Um espírito insensível, doentio, petrificado, não faz arte musical."


1980...

Andava eu no recreio da escola, a curtir as minhas brincadeiras de criança, quando ouvi a voz do autoritário professor a chamar por mim.

Meu pai, que tanta liberdade me dava na escolha de meu destino, acabara de me chamar a casa para me comunicar a sua última decisão de pai, ponderada após longo período de consulta a minha mãe que, como sempre, tinha também ela uma palavra a dizer...

"Meu filho..." começou o meu pai o seu discurso, aliás como era seu apanágio, ao começar as suas intervenções lúdicas... E lá continuou seu discurso.

Descobri que tinha acabado de ser inscrito na Escola de Música da Velha Cidade Francesa de Brive...

Muito irritado fiquei naquela hora... Afinal de contas, o que pretendia, à semelhança de todos os rapazes da minha idade, era seguir a carreira futebolística... E não me parecia que Mozart, Beethoven, Brahms, Schubert e outros da mesma craveira me conseguissem transmitir a magia de Platini, Giresse, Batiston, Rocheteau, e afins... Mas lá acatei a decisão (que remédio, não é?), e comecei a frequentar as ditas aulas de Formação Musical, e Canto Coral...

Iniciava-se nesse dia, a minha mais nobre aventura, que se prolongou por todos estes anos, e espero continuar por muitos e longos anos...

Nesse dia, descobri que, afinal, nem todas as crianças da minha idade se dedicavam ao futebol... E passei, a partir de então, a entender que outras nobres artes eu tinha ao meu dispor, que me ajudariam a tornar Homem (com H grande), e me poderiam orientar nesta vida...

A Música, essa tão nobre arte, que consegue exprimir sentimentos que as palavras jamais conseguirão traduzir... Esse tesouro escondido no fundo do meu coração... Descobriu-me, e tratou de me mostrar toda a sua magia...

Apaixonei-me por ela desde a primeira hora... Não mais a larguei... E ainda hoje lhe devo grande parte da pessoa que sou e pretendo mostrar ser...

Através deste espaço, irei, ao longo dos tempos, evidenciar esta minha vida de emoções, de descobertas, de aventuras, enfim... Tudo o que esta tão nobre arte me trouxe... Esta arte que ainda hoje trago no fundo do coração, e que me guia nos dias de nevoeiro, rumo à felicidade de poder partilhá-la com todos quantos se queiram juntar a mim...

A Lira, esse símbolo mor das Bandas Filarmónicas, que adoptei no mítico ano de 1989, irá acompanhar-me enquanto as forças mo permitirem... E depois de essas mesmas forças me abandonarem... Quando me tiver de juntar a minha saudosa mãe que, lá do alto, continua a velar por mim...

Que esta Lira vos acompanhe a vocês também, que partilham comigo esses sentimentos, essa paixão... E que ela também se aloje no fundo dos vossos corações, e vos consiga mostrar toda a sua magia e envolvência... Juntai-vos a mim nesta aventura... Partilhai comigo esta beleza infinita...

Sim... Porque "A música tem origem no coração e nos sentimentos do homem. Um espírito insensível, doentio, petrificado, não faz arte musical."