Já todos nós, com certeza, em certa altura da vida, teremos ouvido falar de (ou presenciado) situações que envolveram acidentes, desastres naturais, roubos, incêndios, naufrágios ou explosões de bens móveis ou imóveis que pertenciam a alguém, correto?
Imaginemos agora que esses ditos desastres, em vez de atingirem bens físicos, atingiam bens não-materiais, sentimentos ou conceitos etico-morais. Poderíamos nós considerar que estávamos perante situações de desastres etico-morais?
Já todos nós, com certeza, em certa altura da vida, teremos ouvido falar de (ou presenciado) situações que envolveram acidentes, desastres naturais, roubos, incêndios, naufrágios ou explosões de bens móveis ou imóveis que pertenciam a alguém, correto?
Imaginemos agora que esses ditos desastres, em vez de atingirem bens físicos, atingiam bens não-materiais, sentimentos ou conceitos etico-morais. Poderíamos nós considerar que estávamos perante situações de desastres etico-morais?
A título de curiosidade imaginemos-nos a ler um jornal, onde aparecessem cabeçalhos do tipo:
“Coragem roubada a XXXXXX. Após várias tentativas goradas, o furto acabou por ocorrer no dia (tal), em tal sítio, graças a uma manobra dilatória complexa, que envolveu processos audazes e ardilosos.”;
ou ainda:
“Perdeu-se grande quantidade de otimismo, não se sabe bem onde, quando nem como. Pede-se o favor a quem o encontrar, de o devolver no endereço (tal, tal e tal). Oferece-se recompensa garantida em gratidão e confiança «ad aeternum»”;
ou até mesmo:
“Incêndio consumiu fidelidade de fulano. Confiança ficou reduzida a cinzas.”;
ou
“Naufrágio dizimou honestidade de beltrano, afundando todo seu estatuto social e moral.”
Dificilmente conseguimos imaginar um jornal que aborde esse tipo de temas, nos quais as virtudes de alguém possam ter sofrido "assaltos" ou outros tipos de danos... Não acham?
E, no entanto, não serão essas as notícias mais recorrentes no nosso quotidiano? Então, porque não são elas retratadas com o mesmo ênfase das restantes "notícias" com que nos vemos brindados a toda a hora? Será que a ética, o moral e os bons costumes caíram assim tanto em desuso na nossa sociedade?
Não podemos ignorar que, no nosso quotidiano, nos deparamos com situações de ações pouco dignas de quem as pratica, que conseguem deitar por terra a honestidade e a honradez de cidadãos, atingindo pessoas que, inclusivamente, vêem o seu estatuto social e moral sucumbir perante a desmotivação e a ansiedade, quantas vezes ultrapassadas por outras pessoas, à custa de favorecimentos de toda a ordem ou de estratégias menos claras. Não deveríamos nós encarar isto no contexto que acabámos de enunciar, acima? E quantas vezes não ganhamos nós o receio de nos ver acontecer o mesmo, a nós, um dia? Quantas vezes não vemos nós pessoas a abdicar da sua honra e dignidade pessoal, em detrimento de valor mais obscuros? Da que pensar, não?
O que nos vai valendo é que, se as soubermos conquistar, as nossas virtudes, regra geral, acabam por não se deixar arrastar por interesses próprios, pois mais do que virtudes efetivas, são autênticos ensaios de virtudes, e quem verdadeiramente conquista uma virtude, jamais a consegue perder.
Este assunto veio-me hoje à baila, na sequência duma pesquisa pessoal que me propus desenvolver recentemente, sobre valores humanos na nossa sociedade e nos nossos tempos (não se trata de nenhum projeto académico, nem tão pouco pretendi com ela fazer qualquer tipo de abordagem académica ao assunto: trata-se apenas de "aguçar a curiosidade" - um lema que tem estado muito em voga na minha vida social recente ;) - e procurar eventuais respostas a perguntas que, a meu ver, começam a fazer parte do nosso quotidiano, e para as quais, nem sempre se torna fácil encontrar respostas imediatas).
Nesse contexto, a certa altura, a minha pesquisa conduziu-me a um blog no qual, numa das publicações, era referida a história dum jovem advogado que trabalhava num órgão público.
A certa altura, enquanto processava uma pilha de processos que tinha na sua mesa, o jovem advogado foi abordado pelo seu superior hierárquico, que lhe pediu para arquivar dois processos adicionais. Mediante a dúvida do seu subalterno sobre a razão que o teria levado a fazer esse pedido, o diretor respondeu então simplesmente que os acusados eram seus amigos e que lhe tinham pedido para fazer o especial favor de arquivar o processo. Como tinha um firme compromisso com a sua própria consciência, o advogado achou pertinente permitir que os processos seguissem os trâmites normais, sem interferência pessoal, o que fez com que, uns tempos mais tarde, os acusados tivessem de arcar com as consequências dos seus atos, sendo condenados a pagar as custas do processo e indemnizar os vários cidadãos que tinham prejudicado. Quando questionado pelo superior sobre o ocorrido, o advogado argumentou então que não era o facto de os acusados serem seus amigos pessoais [do superior, a quem se dirigia] que os isentava da responsabilidade dos seus atos.
Moral da história: se o jovem advogado não tivesse sido firme com o seu caráter, poderia ter dado azo a que ficassse registado, na sua "ficha espiritual" - ou até mesmo na primeira página dum qualquer jornal - o seguinte título:
“Assalto de corrupção e prepotência. Espírito atingido viu roubados os seus bens mais preciosos - fidelidade e honestidade.”
Isto claro, num dos jornais que publicasse títulos como os que foram referidos no início desta publicação. Ainda bem que não aconteceu.
Esta história permite-nos compreender o quão importante deve ser, para nós, o nosso património ético-moral, e que sempre que permitimos que seja "comprado" ou "roubado", ficamos mais pobres espiritualmente: ao deixarmos-nos invadir pela corrupção e pela ganância dos outros, acabamos por nos tornar, nós próprios, coniventes com essas misérias morais... e empobrecemos... Pelo menos moralmente...
Pensemos nisso, e consideremos se vale ou não a pena preservar esse bem tão valioso que é o nosso património moral...
E tenho dito... Até uma próxima oportunidade.