quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Uma Escola de Vida... Porque recordar é viver...


Passei este último fim de semana a pensar na minha vida... O que me deu... O que me tirou... O q me há de dar... E, essencialmente, o que me há de devolver.

Isto porque as contingências da vida, por vezes, nos levam a pensar que a vida deve ser vivida dia a dia... E que devemos gozar cada momento lembrando que jamais se repetirá, que é único... Porque o tempo não para, e não é possivel fazê-lo regredir...

Quantas vezes nos arrependemos de um gesto, uma atitude, um pensamento mais infelizes?... Quantas vezes desejaríamos voltar atrás para corrigir esses erros? E, no entanto, não temos outra alternativa senão acatar as consequências desse actos... E esperamos que o tempo nos dê a possibilidade de os corrigir... Ou de demonstrar o nosso arrependimento...

Passei este fim de semana a ponderar todos esses factores preponderantes da minha vida, lembrando-me de alguém que estaria nessa altura a fazer o mesmo, embora por motivos muito diferentes...

Mas o reencontro com todas aquelas pessoas com quem convivemos durante 15 anos, nesse fim de semana, a recordar as aventuras e desventuras vividas no seio daquela que foi a minha 2ª família, fez-me reflectir...

E assim foi... Após duas longas horas de conversação filosófica sobre a Universalidade (ou não) da Lógica, à mesa de um café, e quando regressávamos ao serviço, a caminho da capela, aproveitei a oportnidade para me relembrar que esses 15 anos não se passaram em vão, e me trouxeram muitos bons momentos. Também me trouxeram maus momentos (os quais me levaram a abandonar a carreira de Músico em Penacova, carreira que eu abraçara há tanto tempo)... Relembrei que vivi cada um desses momentos como se fossem os últimos momentos passados no seio dessa tão nobre família...

Após este período de ausência, ainda consigo reencontrar os meus amigos... Continuo a partilhar com eles todos estes momentos com a mesma boa vontade, e a mesma boa disposição, mas relembrando que poderá esta ser a última das minhas odisseias... Mas continuo a tratar todos como se fossem meus irmãos... Com a certeza de que a minha ausência se deverá a contingências que a vida nos obriga a assimilar no nosso quotidiano... Sei que serei sempre recebido de braços abertos, que todos me têm reconhecido as características que me tornaram na pessoa que hoje sou, e que me permitiu angariar tantos e bons amigos... Sei que quando algum deles se "chateia" comigo, que o não faz por maldade, mas para me mostrar que é meu amigo, e que preciso, eu também, compreender a sua posição... Sei que se viro as costas a algum deles, é porque também eu lhe quero mostrar que a minha posição também tem valor, e que também tenho o direito (ou o dever) de me fazer escutar...

No fundo, todos somos irmãos, nesta tão grande e nobre Família Filarmónica... Tratamo-nos como tal, e respeitamos a posição uns dos outros. Quer se tratem de pessoas "da casa" ou de convidados, Músicos, Maestro ou Directores, todos temos a nossa importância... Nada seríamos sem a presença uns dos outros... Porque todos precisamos uns dos outros, em cada instante das nossas vidas...

A Filarmónica, não é apenas um espaço de formação musical e artística... É também uma "Escola da Vida", onde cada um aprende a viver em sociedade, e a respeitar os seus próximos... E onde crianças, jovens e adultos se podem divertir, ganhando a experiência que, um dia, lhes caberá ensinar às gerações vindouras...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Quando a Música suplanta os sentimentos (ou "Era uma vez no palco")...

Entrei há dias em palco, com o intuito de praticar a minha insubstituível actividade, através da actuação num concerto com uma Banda Filarmónica à qual me encontro agregado há cerca de 8 anos...

A véspera tinha sido muito complicada... O ensaio tinha corrido de muito pouca feição, mas logo na altura o Jovem Mestre nos consolou, relembrando que "mau ensaio prenuncia bom Concerto".

E assim aconteceu... Um espectáculo brilhante, como há muito não se via naquela terra... Um repertório assinalável, que custou a ensaiar, mas rendeu os seus frutos.

Acabado, o dito concerto, era hora de voltar a cair na dura realidade da vida...

Alguns problemas, ocorridos em dias anteriores, andavam-me a apoquentar o Juízo, e não me largavam... Triste de mim!!! Voltava pra casa, pensando novamente como suplantar aquela difícil fase da minha vida, qual crise existencial que me moía o cérebro, e me fazia lamentar a sua origem...

Eis que senão me apercebi que algo tinha ocorrido durante aquela hora de trabalho...

Enquanto decorria o concerto, durante aquela hora, todas as minhas lembranças como que se apagaram da memória... A concentração era tanta (tamanha era a responsabilidade que me era imputada naqueles instantes) que apenas dava para contemplar as pautas que à minha frente se encontravam, e a Regência... Nesse momento, apenas tinha de cumprir a missão da qual tinha sido incumbido... Mas ao contemplar aquelas folhas de papel, revestidas de pautas, claves, notas e figuras, notei que a execução do trecho desenvolvia-se por mero instinto... Os meus olhos viam, os meus dedos mexiam, e os meus lábios tocavam... Sem que nada nem ninguém lhes ditasse o que fazer.

Não era a minha cabeça que pensava... Era aquela suave melodia que, transportada pelo ar, invadindo os nossos ouvidos, nos levava a imaginar um qualquer cenário. Tudo o que a nossa imaginação pudesse alcançar... E enquanto nos enquadrávamos nesse cenário, todo o Mundo que nos rodeava desaparecia, num piscar de olhos, por entre duas colcheias, antes, durante e depois de um qualquer compasso... E todos os problemas desapareciam com ele...

É essa magia que a Música provoca em nós que me fascina, que me faz lembrar que, por entre aquelas nuvens negras que constantemente têm pairado sobre a minha cabeça, ainda consigo enxergar um raio de luz, que me ilumina e me transporta para um Paraíso, longe de tudo e de todos, onde tudo nos encanta, e onde os sons nos mostram o caminho da nossa redenção...

No fundo, trata-se de música. Actuar. Usar o palco para ensinar e aprender. Trata-se de todas as coisas que não se podem aprender num manual. Trata-se de compreender o Mundo através da experiência e/ou dos sentimentos, e de nos embrenharmos num outro Mundo, paralelo, onde tudo nos fascina, e nos leva ao Paraíso das nossas sensações...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

No princípio, agora e para sempre... De lira ao peito!


"A música tem origem no coração e nos sentimentos do homem. Um espírito insensível, doentio, petrificado, não faz arte musical."


1980...

Andava eu no recreio da escola, a curtir as minhas brincadeiras de criança, quando ouvi a voz do autoritário professor a chamar por mim.

Meu pai, que tanta liberdade me dava na escolha de meu destino, acabara de me chamar a casa para me comunicar a sua última decisão de pai, ponderada após longo período de consulta a minha mãe que, como sempre, tinha também ela uma palavra a dizer...

"Meu filho..." começou o meu pai o seu discurso, aliás como era seu apanágio, ao começar as suas intervenções lúdicas... E lá continuou seu discurso.

Descobri que tinha acabado de ser inscrito na Escola de Música da Velha Cidade Francesa de Brive...

Muito irritado fiquei naquela hora... Afinal de contas, o que pretendia, à semelhança de todos os rapazes da minha idade, era seguir a carreira futebolística... E não me parecia que Mozart, Beethoven, Brahms, Schubert e outros da mesma craveira me conseguissem transmitir a magia de Platini, Giresse, Batiston, Rocheteau, e afins... Mas lá acatei a decisão (que remédio, não é?), e comecei a frequentar as ditas aulas de Formação Musical, e Canto Coral...

Iniciava-se nesse dia, a minha mais nobre aventura, que se prolongou por todos estes anos, e espero continuar por muitos e longos anos...

Nesse dia, descobri que, afinal, nem todas as crianças da minha idade se dedicavam ao futebol... E passei, a partir de então, a entender que outras nobres artes eu tinha ao meu dispor, que me ajudariam a tornar Homem (com H grande), e me poderiam orientar nesta vida...

A Música, essa tão nobre arte, que consegue exprimir sentimentos que as palavras jamais conseguirão traduzir... Esse tesouro escondido no fundo do meu coração... Descobriu-me, e tratou de me mostrar toda a sua magia...

Apaixonei-me por ela desde a primeira hora... Não mais a larguei... E ainda hoje lhe devo grande parte da pessoa que sou e pretendo mostrar ser...

Através deste espaço, irei, ao longo dos tempos, evidenciar esta minha vida de emoções, de descobertas, de aventuras, enfim... Tudo o que esta tão nobre arte me trouxe... Esta arte que ainda hoje trago no fundo do coração, e que me guia nos dias de nevoeiro, rumo à felicidade de poder partilhá-la com todos quantos se queiram juntar a mim...

A Lira, esse símbolo mor das Bandas Filarmónicas, que adoptei no mítico ano de 1989, irá acompanhar-me enquanto as forças mo permitirem... E depois de essas mesmas forças me abandonarem... Quando me tiver de juntar a minha saudosa mãe que, lá do alto, continua a velar por mim...

Que esta Lira vos acompanhe a vocês também, que partilham comigo esses sentimentos, essa paixão... E que ela também se aloje no fundo dos vossos corações, e vos consiga mostrar toda a sua magia e envolvência... Juntai-vos a mim nesta aventura... Partilhai comigo esta beleza infinita...

Sim... Porque "A música tem origem no coração e nos sentimentos do homem. Um espírito insensível, doentio, petrificado, não faz arte musical."