terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Ser músico... Uma vida paralela para além da vida pessoal...

Um músico é alguém que viveu e que pecou, que recorda sentimentos, fraquezas, cujo arrependimento e sensação de nostalgia e remorso transparecem na música que executa e, por isso, consegue arrebatar a assistência, cujos pontos fracos são também os seus.

Yehudi Menuhin (n. Nova Iorque 1916)

Ser músico... Afinal do que se trata?


Quando integrei pela primeira vez as fileiras de uma Banda Filarmónica, pensava na altura que era uma oportunidade de dar a conhecer os meus dotes musicais, os conhecimentos adquiridos nos 7 anos anteriores e que tão poucas vezes tivera oportunidade de apresentar...

Enganado estava... Depressa percebi que, para vingar, teria de agir, pensar, executar... segundo os padrões de todo um grupo. Um elemento só não faz a Banda; mas a Banda, sem esse elemento, perde parte daquilo que a caracteriza: a unidade, e o espírito de entreajuda, que, entre muitas outras características permitem (Fil)harmonia e Musicalidade.

Ainda demorou algum tempo até descobrir que teria de agir assim... Mas o Tempo (esse elemento tão precioso da Música) logo tratou de me passar a lição... E, a partir daí, comecei a descobrir todos os tesouros dessa arte, e o porquê de, ao fim de mais de um século, a Banda Filarmónica ainda sobreviver...

Foi na Banda Filarmónica que conheci os meus amigos, que aprendi a mantê-los e a lidar com eles... Isso porque começámos a partilhar uma Filosofia de Vida comum, juntos, e em confraternização... Formámos um Mundo Paralelo, o qual apenas nós, Músicos, dirigentes, Maestros e Amigos da Filarmónica integrávamos... Nele partilhámos as nossas alegrias, as nossas tristezas... Nele se formaram casais... Nele divulgámos, através da Música que executámos e ouvimos, todos esses sentimentos aos quais, de outra forma, não poderíamos dar expressão... Sempre... Em qualquer altura e em qualquer lugar... Lonje ou perto da vista e do Coração...

Foram esses momentos que nos formaram, musical e humanamente, e que fizeram de nós Homens e Mulheres que hoje somos. Sim... Porque a Filarmónica tem esse condão de formar Pessoas, lonje dos vícios que hoje em dia apoquentam esta nossa sociedade...

É esse um dos segredos com que a Banda Filarmónica nos presenteia... A memória e a lembrança de bons e agradáveis momentos, passados em família... O respeito mútuo pela farda envergada... O apoio e o carinho de quem se encontra junto a nós, nos bons e nos maus momentos, nos momentos de euforia e nos de stress ou arrependimento... Essa amena confraternização que nos aproxima tanto. Porque os amigos servem para todas as ocasiões: para nos acompanhar nos momentos de euforia, mas também para nos acompanhar nos momentos de tristeza e dor...

E, se algum dia nos tivermos de separar, este sentimento de irmandade manter-nos-á unidos, na alma e no coração... Tudo porque um dia decidimos amar e respeitar a mesma arte... A Música.

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